Hoje em dia, o relacionamento sexual é mais livre e menos reservado, além de se iniciar mais cedo do que o foi ao longo da segunda metade do século 20.
A pílula anticoncepcional, cujo advento coincidiu com maior presença da mulher no mercado de trabalho, desvinculou definitivamente o sexo erótico do reprodutor, possibilitando relações sexuais exclusivamente com a finalidade de obtenção de prazer e sem a ameaça de gravidez.
Na década de 60, a iniciação sexual (sexo com penetração) incidia por volta dos 16 anos para o jovem do sexo masculino, enquanto à jovem cabia conservar sua virgindade até o casamento, ou às vésperas dele, pelo menos.
Ela não deveria postergar para além dos 20 ou 22 anos esse enlace, sob risco de ficar para “titia”.
As últimas quatro décadas assistiram a mudanças sociais e econômicas tais que exigiram uniões estáveis mais tardias: também as moças (além dos rapazes), atualmente permanecem solteiras e residindo na casa dos pais, enquanto se estabelecem profissionalmente.
O incremento da longevidade estimula ainda mais essa situação.
O casamento, assim adiado, generalizou um tipo de comportamento sexual que se consagrou com o nome de “ficar”, ou seja: atividade sexual sem penetração, mas admitindo diversas alternâncias de parceiros(as), antes da decisão de se namorar com alguém.
As raízes desse “ficar” – segundo se sabe – residem na urgência, consciente ou não, de adiar a relação sexual completa, para a proteção contra o sexo de risco, agravado após o surgimento da Aids.
Surpreendentemente, entretanto, a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis parecem não intimidar jovens e não tão jovens parceiros sexuais que, apesar do risco (e até pelo prazer que o riscoagrega), seenvolvem em r e l a c i o n a - mentos sem a devida e única forma eficaz de proteção, isto é, sem o uso do preservativo (a camisinha).
As campanhas são adequadas para informar a respeito de prevenção ao sexo de risco, mas dificilmente revertem comportamentos arraigados e não corrigem maus hábitos.
Se o desejável é mais do que só informação, mas verdadeira educação sexual, todo adolescente deveria ser preparado.
Esse preparo, hoje delegado às escolas, seria mais particularizado e ao mesmo tempo mais abrangente, caso os pais se encarregassem de fazê-lo, atendendo ao foco e ao ritmo da curiosidade de cada filho.
Não se trata de não reconhecer o relevante papel que os professores têm desempenhado nesse campo, face à lacuna deixada por progenitores inseguros frente às dúvidas sexuais de seus filhos, tão similares às suas próprias dúvidas juvenis.
Mais do que apontar os riscos, educar para o sexo é considerá-lo na sua inevitabilidade. Não há dúvida de que somente pais “sexualmente resolvidos” falam de sexo com seus filhos. Tomara que a educação sexual, em futuro bem próximo, seja um assunto de família, sem preconceito e com responsabilidade.
Psiquiatra, Livre-Docente e Professora Associada
do Departamento de Psiquiatria da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo.
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